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Entrevista com Maria Luíza Gonzáles da Fonseca
(Coordenadora do setor de documentação da Pastoral do Casamento)


JR - O que a Pastoral do Casamento abrange?
Maria Luiza - Cuida da parte de processo, recebimento dos noivos, pedir a eles os documentos, verificar se estão de acordo com as normas canônicas, encaminhá-los ao padre para fazer a entrevista e acompanhar esses processos até o momento em que vão ser concluídos e entregues aos noivos para casarem. Mas há também o curso de noivos que é a preparação e é coordenado pela Lígia.

JR - Que documentos são esses de que você falou?
Maria Luiza - Primeiro, o noivo tem que provar que é católico com a certidão de batismo e que é a porta de entrada para qualquer outro sacramento e também funciona como "nada consta" - essa certidão só tem validade por seis meses - onde a gente verifica se a pessoa se casou em outro momento na Igreja.

JR - E os Proclamas o que são?
Maria Luiza - Coloca-se em lugar visível na igreja que fulaninho e sicraninha querem se casar. É na própria igreja em que os noivos residem. Aqui na Ressurreição fica num mural ao lado da imagem de Madre Teresa. Isto é feito durante três domingos consecutivos. Só fazemos processos desde que um dos dois seja nosso paroquiano. Se não são daqui, o processo deve ser feito na paróquia deles, mas se pode casar aqui ou em qualquer lugar do mundo.

JR - Alguém já foi impedido de casar pelos proclamas?
Maria Luiza - Na minha gestão não. Numa cidade grande como a nossa, as pessoas não estão muito preocupadas com a vida do outro. É mais uma formalidade.

JR - E a entrevista com o padre?
Maria Luiza - Ela é feita com qualquer um dos padres designados da paróquia, que faz perguntas sobre o passado dos noivos, qual a intenção deles em se casar e, os noivos assinam uma declaração daquilo que estão falando. Na entrevista, o padre pode perceber se a pessoa está sendo pressionada a casar, se tem intenção de levar o casamento adiante. Temos alguns padres que já impediram o casamento, quando percebem que os noivos estavam levando na brincadeira.

JR - Há mais algum requisito para casar?
Maria Luiza - Há a habilitação civil do cartório para que se case na igreja com efeitos civis. Isso num casamento tranqüilo. Se for entre viúvos, por exemplo, tem que ter o atestado de óbito. Quando a pessoa é de outra religião e vai casar com um católico, tem que ter um "juramento de estado livre", ou seja, pessoas terão que jurar que ele nunca se casou e aí vai se complicando...

JR - E em caso de casamento entre estrangeiros?
Maria Luiza - Os processos são feitos nos países de origem se eles estão morando lá. Se já moram no Brasil há seis meses, podemos fazer o proclama.

JR - E se for um brasileiro, paroquiano, que vai se casar no exterior?
Maria Luiza - O proclama é feito aqui.

JR - O processo tem que ter sido feito na paróquia?
Maria Luiza - A pessoa pode casar aqui e o processo ter sido feito em outra paróquia.

JR - O mês de maio ainda é o mais procurado?
Maria Luiza - Maio e setembro, este até mais. Acho que as ornamentações são mais baratas pois é primavera em setembro.

JR - O que deve ser feito primeiro, o "curso de noivos" ou o processo?
Maria Luiza - Tanto faz. Há igrejas que exigem que já se tenha todos os documentos para dar entrada no processo. Nós somos mais democráticos: trazendo a certidão de batismo, a gente dá entrada e a pessoa faz o curso no transcorrer do processo.

JR - O processo burocrático dura quanto tempo?
Maria Luiza - No mínimo três domingos, mas há dispensas em algumas situações; já fizemos processo em duas semanas. Quando é preciso dispensar um proclama o Pe. Zé Roberto pode fazê-lo. Mais de um, só o Vigário episcopal da região.

JR - O número de casamentos tem aumentado ou diminuído nos últimos anos?
Maria Luiza - Diria que não temos uma diminuição, não vejo queda.

JR - Há que se assinar um termo se comprometendo a criar os filhos na religião católica?
Maria Luiza - Sim, na entrevista. Se um for de outra religião, só o católico assina que vai fazer tudo para educar seus filhos na religião católica.

JR - Qual a importância do casamento para a senhora?
Maria Luiza - O casamento é o início de uma família e, se esta é o núcleo da sociedade, uma coisa vem atrelada à outra. A partir do momento em que você não assume um casamento, por exemplo, se junta, eu me pergunto se há realmente a intenção de se constituir uma família; quando você quer, se entrega de corpo e alma, não tem medo do sacramento.

JR - Surgem muitos casos curiosos nesse serviço?
Maria Luiza - A gente vê muitas segundas uniões, em que as pessoas não recebem o sacramento por ignorar as leis canônicas. Orientamos as pessoas que se casem; às vezes nada impede isso e quando há algum impedimento, a gente busca através do Tribunal Eclesiástico decretar que aquele casamento foi nulo. Porque há situações de pessoas que, às vezes, nem consumaram o casamento e nunca pediram a nulidade.

JR - A senhora é casada?
Maria Luiza - Não.

JR - Vocês recebem algum tipo de treinamento para este serviço?
Maria Luiza - A gente foi aprendendo com a experiência. Não somos advogadas, mas temos uma base de direito canônico mas, os casos mais complicados, aqui na paróquia, encaminham-se para o Pe. Gomes que é do Tribunal Eclesiástico. Eu tenho uma base, também, da Escola Mater Eclesiae que tem uma disciplina de Direito Canônico.

JR - E se alguém quiser ajudar na pastoral?
Maria Luiza - É bom que tenha noções do Código de Direito Canônico. E têm que ser pessoas com bom discernimento para atender o público. Às vezes, a pessoa que vem aqui está com uma esperança imensa de casar e de repente você vai dizer a ela que não pode, tem que dizer com carinho. Há muitas pessoas que procuram a pastoral e só querem aparência e começam a dizer que a Igreja cria problemas e exige muitas coisas. Tem que mostrar a elas que a exigência é cabível. A pessoa tem que explicar isso sem causar polêmica. E têm de ser pessoas que levem a sério o que estão fazendo, porque são documentos muito importantes.