› home | Você sabia

Muitos alegam que a Igreja cultua imagens. Por que não é bem assim?

Existe uma relação entre arte e religião, beleza e fé? É a pergunta que o filósofo Umberto Galimberti responde, ao afirmar que o vínculo é tão forte, a ponto de acreditar que, no Ocidente, não teria havido um desenvolvimento da arte, nem a disciplina chamada Estética, se o culto às imagens não fosse aprovado no Concílio de Niceia (787 d.C). Entre as três religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo) apenas o cristianismo não considera o culto às imagens como idolatria.
Tudo começou no séc. VIII d.C., quando o culto às imagens atingiu tal nível de fanatismo, que os fiéis raspavam as tintas das pinturas para misturá-las ao vinho distribuído após a missa. Os abusos eram tais que judeus e muçulmanos começaram a chamar os cristãos de idólatras e de iconólatras.
Então, o imperador Leão III (717-741), deu ordens para destruir todas as imagens sagradas, começando com uma de Cristo, colocada no cimo de uma porta de Constantinopla e amplamente venerada. Houve uma revolta popular, sufocada com força. Quem hoje visita as igrejas rupestres da Capadócia (Turquia) pode ver como a iconoclastia foi violenta nos rostos de Cristo e de Maria, mutilados por golpes de martelo.
Em 787, a fim de acabar com o conflito, a “Imperatriz do Oriente”, Irene de Atenas, convocou o Concílio de Niceia que não acabou com a polêmica, mas no qual firmou-se a base teológica para o uso de imagens no culto cristão. Em 869, o Concílio de Constantinopla viria a confirmá-lo definitivamente.

E que razões Niceia trouxe para legitimar o culto às imagens, abrindo as portas, indiretamente, para a História da Arte?
Conforme o relato de Crispino Valenciano, os argumentos foram a encarnação e a ressurreição de Cristo. Se Deus se encarnou no Filho, significa que Ele quis se mostrar a nós, e o cristianismo, que se distingue do judaísmo e do islamismo precisamente porque reconhece a encarnação de Deus, afirma, não apenas a legitimidade, mas a importância da visão ao lado da audição, da imagem ao lado da palavra.
Se por um lado aí está “fundamentado” o culto das imagens, por outro lado, indica que é imperativo que as imagens sejam apenas a representação de algo ou de alguém que se tornou visível, que entrou na história humana, e não que sejam o resultado de uma invenção fantástica: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse O revelou” (Jo 1, 18).
Portanto, Jesus, sua história, sua humanidade, tornam-se o “lugar” onde os homens podem fazer uma experiência de Deus, porque é na sua carne em que o Tudo se revelou. Por isso, o que a Ele se refere pode se tornar, não apenas objeto de representação, mas caminho para o conhecimento.
Compreendemos, então, porque o Patriarca de Constantinopla Nicéforo, apoiando-se no Evangelho de Mateus, onde se lê: “Bem-aventurados os vossos olhos, porque veem. Muitos profetas e homens desejaram ver o que vedes e não o viram” (13, 16-17), argumenta que: “A percepção visual é mais imediata e mais penetrante do que a percepção auditiva.” Neste ponto, Galimberti se pergunta se a estética, em vez de permanecer confinada no âmbito histórico e artístico, não pode voltar a ser uma teoria da sensibilidade (em grego aisthesis), como destacou o Concílio de Niceia, que, de um lado, colocou o cristianismo – religião da imagem ou da sensibilidade -, e, de outro, o judaísmo e o islamismo – religiões da palavra –, porque não aceitam a encarnação de Deus, sua manifestação na carne de Jesus.
Deveríamos ser mais conscientes de que, hoje, precisamos colocar a ortopatia, isto é, a maneira correta de perceber a relação com o “divino”, em que a Beleza possa novamente motivar a procura da verdade e sustentar o compromisso corajoso para a transformação do mundo.

(com base em texto de Massimo Casaro, Sacerdote do Pime - Revista Mundo e Missão - Novembro 2013)


Matérias anteriores:

• Por que outubro é o mês do rosário?
• Maria está presente no Antigo Testamento?
• Tempo Litúrgico
• Onde nasceu Jesus
• Celebrações marianas
• Dicas para Acolhida na JMJ
• O que é transubstanciação?
• Por que sábado é dedicado a Maria?
• Os dois tempos...
• Sobre o Espírito Santo...
• Sobre os Bispos
• A Eucaristia - Corpus Christi
• Onde ficam alguns dos lugares citados na Bíblia?
• Quais as roupas do sacerdote?
• O que é “romaria”?
• Que os livros da Bíblia podem ser divididos em quatro grandes grupos?
• Como procurar uma passagem ou citação na Bíblia?
• O que é ladainha?
• O que são os doutores da Igreja?
• O que é o ambão?
• O que significa o altar?

• Qual a importância da cadeira do sacerdote celebrante no espaço litúrgico?